Esse contingente urbano, plugado no mundo e preocupado com sua "empregabilidade", corre o dia todo e a noite adentro, de um lado para o outro, tentando se manter no fogo. Sem tempo nem para se alimentar direito, devido à dupla jornada de trabalho, esse novo consumidor também estuda, freqüenta academia, faz curso de inglês, MBA, pós, mestrado e assim por diante.
A alimentação entre uma jornada e outra é feita em trânsito. Nunca se viu tanta gente comendo em pé, andando, dirigindo, no metrô e nos ônibus. Perceber mudanças de comportamento, hábitos e atitudes sempre foi a arma secreta das indústrias de ponta e, mais uma vez, elas saíram na frente, ajustando ou criando produtos focados nas necessidades desse consumidor sem tempo para nada.
Na indústria de alimentos vemos surgir novidades, como o café que esquenta na própria lata, apertando-se um botão no fundo da embalagem. Os snacks ganharam um pote plástico que permite despejar o produto diretamente na boca sem sujar os dedos, nem o volante, o teclado, o celular...
Tenho colecionado uma dezena de tipos de produtos que atendem a essa necessidade e suas variantes, como, por exemplo, produtos e embalagens gerados pelo sentimento de "não estar se alimentando corretamente", que essa forma de consumo provoca nas pessoas.
Essa percepção tem provocado um aumento expressivo de consumo de sucos naturais prontos para beber e de bebidas lácteas, que podem ser encontradas nas vending machines e nas mesas de bares e lanchonetes, como alternativa aos refrigerantes.
Além das frutas, os legumes entram nessa vertente, aparecendo combinados com as frutas como suplemento alimentar de "melhor qualidade", segundo a visão dos consumidores. O suco combinado com acerola e cenoura, que pode ser pedido na academia ou na cantina da escola, é um exemplo desse tipo de demanda. Outro produto derivado dessa percepção é a barrinha de cereais, cujo consumo disparou.
Finalmente, os biscoitos — que equivalem ao "pão de cada dia" no mix que mencionamos — já contêm leite, frutas, legumes e cereais. Eles ganharam uma nova embalagem, de porção individual. O sucesso foi tão grande que obrigou os fabricantes a incluir essa alternativa portátil em suas linhas.
Os tradicionais waffers também se renderam à nova tendência. Não é fácil comer um waffer em trânsito, no carro ou sobre uma mesa de trabalho, pois não é possível enfiar o biscoito inteiro na boca e, ao mordê-lo, não conseguimos evitar a queda de migalhas. Por isso, a solução foi criar miniwaffers, que podem ser colocados de uma só vez na boca.
O novo saquinho flexível, que fica em pé, completou o conjunto. É como comer pipoca sem sujar os dedos. Novos hábitos exigem novos produtos e embalagens que atendam a esse novo consumidor. A indústria, de um modo geral, especialmente a de embalagem, tem muito a ganhar acompanhando a evolução da sociedade humana e de seus hábitos de consumo, como confirma o sucesso desses novos produtos.
Fábio Mestriner
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